domingo, 12 de outubro de 2014

Fome e Desnutrição

A história da saúde e das doenças está intimamente atada à história do abastecimento alimentar. Dante, em sua obra “A Divina Comédia”, já definia a fome como sendo a principal das calamidades que assolam a humanidade, tendo como consequência a morte mais miserável de todas. Provocando um lento suplício, dores prolongadas, sendo um mal que habita e se esconde no interior do ser, uma morte lenta a chegar.¹
A alimentação é então a luta contra a fome, mas nem sempre essa batalha foi vitoriosa para a humanidade. Observamos que a capacidade de produção de alimentos influenciou fatores como a localização de comunidades, o seu nível de povoamento e de densidade populacional. Porém a produção e a disponibilidade social desses alimentos têm obedecido a uma dinâmica milenar de desigualdades na distribuição e de crises alimentares, tendo como consequência a fome a assolar o passado e o presente da humanidade.¹ As grandes fomes na atualidade decorrem não somente da ausência de alimentos disponíveis em determinadas regiões, mas sim da impossibilidade enfrentada por muitas populações em obter tais alimentos. Carneiro (2003) resume que o que falta não é pão, mas sim “ganha-pão”.²
A definição de fome não envolve apenas a sensação que temos antes de comer, mas é caracterizada como o estado crônico de carências nutricionais que podem levar o ser humano à morte por inanição ou às doenças da desnutrição. Tentativas de classificação da fome chegaram a conceitos como fomes agudas, subalimentação crônica ou fome oculta (carências qualitativas de proteínas ou vitaminas).¹
As deficiências nutricionais abrangem várias modalidades de desnutrição, e são doenças que decorrem do insuficiente aporte alimentar em energia e nutrientes ou ainda do inadequado aproveitamento biológico dos alimentos ingeridos – geralmente decorrentes da presença de doenças, em particular as infecciosas. As deficiências nutricionais podem ser diagnosticadas por meio de exames clínicos e laboratoriais. E por serem sabidamente mais vulneráveis a deficiências nutricionais, as crianças são geralmente escolhidas como grupo indicador da presença da desnutrição na população, calculando-se o percentual de crianças com retardo de crescimento, que é a mais precoce manifestação de desnutrição na infância.³
Os problemas nutricionais mais graves nos países em desenvolvimento incluem a desnutrição protéico-energética, anemia ferropriva, hipovitaminose A e morbidade por deficiência de iodo. A forma mais comum é a primeira, e ela ocorre com mais frequência durante o período de desmame, entre os 04 e 18 meses de idade.
Dessa forma, as ações que combatam eficientemente a pobreza serão de grande valia para a luta contra a desnutrição, juntamente à intensificação dos investimentos em educação, saneamento básico e cuidados primários de saúde, que são essenciais para se alcançar a tão necessária erradicação das deficiências nutricionais.¹

Referências Bibliográficas

1. CARNEIRO, Henrique S. Comida e Sociedade: Significados Sociais na História da Alimentação. História: Questões & Debates. Curitiba: Editora UFPR, 2005.
2. REZENDE, Marcela Torres. A alimentação como objeto histórico complexo: relações entre comidas e sociedades. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, nº 33, janeiro-junho de 2004, p. 175·179. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewFile/2206/1345 Acesso em: 02/10/2014.
3. MONTEIRO, Carlos Augusto. Fome, denutrição e pobreza: além da semântica. Saúde e Sociedade. V.12, n.1, p.7-11, jan-jun 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v12n1/03.pdf Acesso em 11/10/2014.
4. SOARES, N. T. et al. Estado Nutricional de Lactentes em Áreas Periféricas de Fortaleza. Rev. Nutr., Campinas, 13(2): 99-106, maio/ago., 2000. Disponível em : http://www.scielo.br/pdf/rn/v13n2/7912.pdf Acesso em 11/10/2014.

6 comentários:

  1. É interessante analisar como ainda hoje - apesar do fato de a quantidade de alimentos produzidos seja mais que suficiente para suprir a demanda alimentar do mundo - a fome esteja intimamente relacionada à doença e à morte. É evidente que esta relação é hoje menos pronunciada do que foi um dia. O Mapa da Fome 2013, apresentado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), mostra que O Brasil, nos últimos dez anos, conseguiu reduzir a pobreza extrema em 75%. Mostrou, também, que , nesse mesmo período, o País reduziu pela metade a porcentagem da sua população que sofre com a fome. A despeito desse sucesso, ainda há 16 milhões de brasileiros vivendo na pobreza. Do que se depreende que, só no Brasil, existem 16 milhões de pessoas que sobrevivem com muito menos do que o necessário para ter uma alimentação balanceada, e que, por conseguinte, estão sujeitas às doenças da desnutrição. A desnutrição é uma problema que conduz não somente à morte física, mas também pode implicar uma mutilação grave, como a falta de desenvolvimento das células cerebrais nos bebes e a cegueira por falta de vitamina A. É importante, como foi dito, portanto, ações que combatam efetivamente a pobreza e a desnutrição. Aguardo a próxima postagem.

    Referência: http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Resultados/noticia/2014/09/brasil-reduz-pobreza-extrema-em-75-diz-fao.html (acesso em 15/10/2014)

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  2. Atualmente, apesar da modernização e ampliação da produção agrícola, a fome ainda é um grave problema que atinge diversos países, como o Brasil e os africanos. A Teoria Malthusiana, por exemplo, dizia que a fome seria uma realidade de todo o mundo caso não ocorresse um controle de natalidade, ou seja, para Malthus a causa da fome é de ordem demográfica. No entanto, sabemos hoje que a grande explicação para a fome é de ordem econômica, visto que uma grande parcela da sociedade vivem em condições miseráveis e com poucas oportunidades de ascender socialmente. Isso é consequência direta do descaso do poder público, não só do Brasil, mais também em vários outros países, onde as medidas de combate a fome são ineficientes e em sua maioria paliativas. No entanto, no Brasil, por exemplo, é louvável, a criação de programas como o Bolsa Família, que fez reduzir a fome e, consequentemente, a desnutrição (principalmente, a infantil) e sem dúvida contribuiu para que o país saísse do ''mapa da fome'', como aborda a seguinte reportagem: http://noticias.r7.com/brasil/desafio-agora-e-manter-brasil-fora-do-mapa-da-fome-avalia-onu-14102014. Investir no combate à fome, implica a criação de programas sociais efetivos, como o bolsa família, mais principalmente investimento em educação, que é a base para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, mas que infelizmente ainda é muito escasso. Aguardo as próximas postagens.

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  3. A fome atinge um número elevado de pessoas no Brasil e no mundo. Apesar dos grandes avanços econômicos, sociais, tecnológicos, a falta de comida para milhares de pessoas no Brasil continua. Nesse sentido, a fome e a desnutrição também são distribuídas de forma desigual. Crianças desnutridas ou com baixa estatura correspondiam, em 1996, a 10,4% da população infantil brasileira. A distribuição regional da desnutrição na infância praticamente se superpõe à distribuição descrita para a pobreza, reproduzindo, ainda com maior intensidade, as desvantagens das regiões Norte e Nordeste. Crianças com baixa estatura se mostram duas a três vezes mais frequentes no Norte (16,2%) e Nordeste (17,9%) do que nas regiões do Centro-Sul (5,6%), sendo que, internamente, às regiões, tanto no Nordeste como no Centro-Sul, o problema se apresenta duas vezes mais frequente no meio rural do que no meio urbano. O risco de desnutrição chega a ser quase seis vezes maior no Nordeste rural, onde uma em cada três crianças apresenta baixa estatura, do que no Centro-Sul urbano, onde apenas uma em cada vinte crianças encontra-se na mesma situação. Pesquisa encontrada no site: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142003000200002&script=sci_arttext Esse cenário expõe uma questão que foi amenizada pelo programa fome zero, mas ainda constitui uma realidade, que deve ser tratado como resultado das desigualdades sociais. Portanto, deve-se procurar soluções pras desigualdades sociais. Aguardo a próxima postagem.

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  4. O principal problema, como você comentou muito sagazmente acima, não é a produção de alimentos, mas sim as grandes desigualdades sociais que impedem o acesso igualitário de todos aos alimentos, o que gera a fome nos menos favorecidos. Na atualidade muito ainda precisa ser feito para combater a fome no mundo. Segundo dados da ONU mais de 1 bilhão de pessoas ainda passam fome em todo o globo, muito embora países como o Brasil tenham apresentado grande crescimento nessa luta, sendo que o Brasil conseguiu sair do chamado Mapa da Fome pela primeira vez. Dessa forma, é importante implementar políticas sociais, como programas de alimentação por exemplo, e outras de combate às desigualdades sociais com a finalidade de lutar contra a fome.

    Referências: http://noticias.r7.com/brasil/desafio-agora-e-manter-brasil-fora-do-mapa-da-fome-avalia-onu-14102014

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  5. Como o comentado no texto, e reiterado pelos comentários de outros colegas, o problema da fome é criado principalmente por motivos econômicos e não por produção alimentar insuficiente, como achavam estudiosos dos séculos passados (a exemplo de Thomas Malthus). Apesar de a Revolução Verde (grande modernização e aumento da produtividade do setor agrícola) ter chegado a vários dos países em desenvolvimento na década de 70, a melhoria da produção não foi acompanhada da tão esperada melhoria social. “Para usarmos exemplos brasileiros, entre 1970 e 1985, o aumento na produção de alimentos básicos para a população foi de 20%, enquanto que a de produtos de exportação (cacau, soja...) cresceu da ordem de 119 a 1.112%. O país ocupa hoje lugar de destaque entre os países exportadores de alimentos, contrastando com uma população de milhões de subnutridos”, segundo José Maria Gusman Ferraz, pós-doutorando em agroecologia pela Universidade de Córdoba, na Espanha, e pesquisador da EMBRAPA. Logo, podemos perceber que as evoluções no setor agrícola beneficiaram mais os mais ricos do que a classe pobre da população, que necessita do acesso a uma nutrição de qualidade. Nesse contexto, podemos citar a importância dos projetos sociais, principalmente na área da atenção básica, que ajudam a reduzir as deficiências nutricionais (principalmente em grupos mais frágeis como o setor infantil), como o Bolsa Família, Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A, Promoção da Saúde e da Alimentação Adequada e Saudável, dentre outros. Espero novas postagens para discutirmos mais sobre o abismo que ainda há entre a alimentação de classes sociais diferentes e como poderemos superar essa situação.

    Referências: http://www.dicyt.com/noticia/muito-alem-da-tecnologia-os-impactos-da-revolucao-verde

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  6. A humanidade vive uma imensa contradição, já que a alimentação tem se tornado um problema em dois extremos, tanto no excesso, com casos de obesidade em crescimento vertiginoso nas ultimas décadas, assim como na falta, já que mais de 800 milhões de pessoas ainda estão em estado de insegurança alimentar. Isso mostra o quão desunida é a nossa raça.
    Em outra análise, em relação ao baixo consumo de proteínas, as dificuldades provém do fato de estes nutrientes serem extremamente importantes para o organismo, seja para realização de funções metabólicas, estruturais ou ainda para a sua transformação em carboidrato para sustentar o cérebro quando acaba o glicogênio ( reserva de glicose no organismo). Dado a sua necessidade, as proteínas musculares são consumidas, até que a criança fique extremamente franzina, podendo desenvolver uma doença chamada Kwashiorkor, ou até mesmo chegando ao óbito.

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