A alimentação é uma das mais
básicas necessidades humanas, indo muito além de uma necessidade
biológica, pois envolve um complexo sistema simbólico de
significados sociais, políticos, religiosos, éticos e estéticos.
A fome biológica difere do apetite,
mas se materializa em hábitos, ritos e costumes, marcados por uma
intrínseca relação com o poder. O que se come é tão importante
quanto quando se come, onde se come, como se come e com quem se come.
As variações dos hábitos
alimentares e dos contextos que cercam tais hábitos é um tema que
envolve diversos fatores. O estudo da alimentação foi estabelecido
nos últimos dois séculos a partir de quatro enfoques: o biológico,
o econômico, o social e o cultural. Abrangendo, dessa forma, os
aspectos fisiológico-nutricionais, a história econômica, os
conflitos na divisão social e a história cultural da alimentação.
Quanto ao enfoque biológico e social,
podemos citar os problemas quanto ao ambiente sociocultural e as
avaliações individuais e coletivas (comida como divisão social e
como ação simbólica, religiosa e comunicativa) e os conteúdos
nutritivos e as consequências para a saúde.
A alimentação pode ser ainda
abordada a partir do estudo dos hábitos alimentares, e de como
certos padrões de consumo se estabelecem e se alteram.
A medicina vem desde a Antiguidade
buscando desvendar os mistérios do metabolismo humano
e, particularmente, o fenômeno da digestão. A história da
alimentação tem como fonte de informações a própria história da
medicina. As teorias nutricionais, a ideia da digestão e as
prescrições dietéticas nos revelam informações sobre os hábitos
e concepções de uma época. Grande parte das literaturas grega e
latina clássicas que se referem à alimentação era relacionada a
Tratados Médicos.
As
ciências modernas sobre
a nutrição desenvolveram-se a partir do séc XIX, reunindo avanços
das ciências naturais e os da medicina, mantendo um enfoque
exclusivamente biológico. A investigação nutricional examinou o
processo da digestão no organismo humano, obtendo informações para
a modificação das dietas de acordo com a idade, gênero e ocupação.
Importante destacar também a busca de um tratamento dietético
adequado das doenças relacionadas ao processo digestivo.
Muitos
estudiosos da nutrição têm focado seu campo exclusivamente como um
ramo da bioquímica, como um processo orgânico e metabólico. Mas
isto não esgota, contudo, a dimensão humana da alimentação, que
envolve ainda as questões econômicas, sociais e culturais.
A
comida além de primeira necessidade do ser humano é também um
prazer. Fazendo parte das necessidades básicas, mas também
expressando os desejos humanos.
Os
antigos hipocráticos acreditavam que o calor seria o responsável
pela assimilação orgânica dos alimentos, mas apenas no período
moderno, a partir do séc XVIII evidenciou-se a
natureza química da digestão, pelo famoso cientista
Lázaro Spallanzani (1729-1799), que demonstrou a acidez do suco
gástrico.
Somente
no séc XX foi estabelecida mais claramente a natureza bioquímica da
fisiologia da nutrição. A composição dos alimentos assemelha-se à
do corpo, portanto necessitamos de água, sal, carboidratos,
proteínas, lipídios, fibras, sais minerais e vitaminas, para
fornecer as fontes de energia e os catalisadores bioquímicos
necessários ao nosso organismo.
As
descobertas na medicina sobre a relação entre
saúde e alimentação levaram à identificação de uma série de
enfermidades causadas pelas carências de nutrientes específicos,
como a anemia por deficiência de ferro, ou por excessos
alimentares, como a hipercolesterolemia pelo
excesso na ingestão de gorduras. No séc XX, o descobrimento das
vitaminas fundamentou cientificamente a causa de algumas destas
deficiências alimentares, ampliando a compreensão sobre a
fisiologia da nutrição.
Nos
últimos anos, os estudos nutricionais também identificaram a
ocorrência de determinadas agravos com relação a dietas
particulares. Como a menor incidência de problemas cardiovasculares
entre os franceses e os japoneses, apesar de uma dieta rica em
colesteróis. Fato explicado pelo hematólogo francês Serge Renaud
pelo consumo
moderado de vinho tinto por estas populações, o que atuaria como
fator de prevenção das enfermidades cardiovasculares.
Deste
modo, torna-se clara a interação entre comida
e sociedades. Os padrões de consumo não são apenas distintos, mas
também são repletos de significados sociais e simbólicos, chegando
mesmo a refletir valores, conflitos e dilemas dos grupos humanos ao
longo da história.
Referências
Bibliográficas
CARNEIRO,
Henrique
S. Comida e Sociedade: Significados Sociais na História da
Alimentação.
História:
Questões & Debates,
Curitiba, n. 42, p. 71-80, 2005. Editora UFPR.
REZENDE,
Marcela Torres. A alimentação como objeto histórico complexo:
relações entre comidas e sociedades. Estudos
Históricos,
Rio de Janeiro, nº
33, janeiro-junho
de 2004,
p. 175·179. Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewFile/2206/1345
Acesso em: 02/10/2014.
Achei bastante interessante o fato de que a alimentação está relacionada de forma intrínseca à própria história da humanidade e como a visão sobre ela muda com a própria evolução da sociedade (como quando o calor era considerado o principal fator de assimilação orgânica, e não a natureza química da digestão). Estou ansiosa para saber também como a alimentação se relaciona com as classes sociais, e se isso gera pontos positivos ou negativos para a população. Aguardo novas postagens!
ResponderExcluirMuito interessante essa postagem. Algo que me chamou a atenção foi o fato do conhecimento sobre a assimilação da comida mudar com o tempo, evoluiu desde noções onde o calor fazia isso até a compreensão da natureza química da digestão hoje, afinal de contas o conhecimento não é imutável. Outro aspecto relevante é a relação profunda que se estabeleceu entre alimentação e saúde ao longo da historia da humanidade. Se não cuidar da primeira, a segunda também se degenera. Aguardo próximas postagens para aprender mais.
ResponderExcluirÉ inerente que os hábitos alimentares da sociedade estão relacionados com o quadro da saúde das pessoas. Á medida que a medicina vai evoluindo, tal fato foi sendo comprovado, nos diversos estudos científicos além de que outras teses foram refutadas gradualmente. O estudo da alimentação humana está ligada diretamente com a cultura alimentar de cada região, como o post mostra muito bem, em que, por exemplo, japonese e franceses, apesar de terem uma dieta rica em colesteróis, apresentam pouca incidência de doenças cardiovasculares, fato que estaria ligado ao maior consumo de vinho por pessoas dessas nacionalidades. Assim, o post é bem interessante ao abordar o contexto da evolução da alimentação humana e sua relação na sociedade. Aguardo novas postagens.
ResponderExcluirÉ interessante como a alimentação representa mais na sociedade do que somente uma ação necessária à sobrevivência. Como ela pode, por exemplo, ser uma representação do poder que um indivíduo possui em uma sociedade e da posição social que ele ocupa. Ou como ela pode representar os costumes de uma época e de uma sociedade específica. É muito interessante também, como essas variações nutricionais se expressam nos organismos de seus consumidores, podendo aumentar a qualidade de vida ou causar patologias. Espero aprender sobre a relação entre alimentação e classes sociais nas próximas postagens.
ResponderExcluirVale ressaltar que a alimentação, como foi dito, representa poder. Portanto, talvez a alimentação represente uma diferenciação social. Além disso, o habito de comer envolve não só o alimento, mas também, as pessoas, como se come e quando se come. Um alimento identifica uma época, uma cultura, uma religião, e a classe social. Diante disso, o autor conclui que o alimento não é um conjunto de substâncias bioquímicas, que devem ser analisadas pelos seus benefícios e desvantagens individuais, mas que devem ser vistos em sua plenitude, como são consumidos, e por quem são consumidos para ter uma visão global da desse fenômeno social. Muito interessante a postagem, espero aprender mais com as próximas.
ResponderExcluirRealmente a alimentação transcende a questão dos nutrientes e tanto permeia como determina uma cultura. É importante perceber como padrões de alimentações podem ser analisadas em uma sociedade, em segmentos dessa sociedade, e mais ainda, existem muitas particularidades de cada indivíduo.
ResponderExcluirA alimentação tem poder de modificar sensações e sentimentos e, dessa maneira, o alimento é muito presente como um elemento religioso. O texto também traz a ideia de que um estilo de alimentação pode ser a chave para a prevenção de doenças, ao fazer uma correlação entre dietas particulares de algumas culturas e a diminuta ocorrência de algum tipo de doença.
Concordo com essa ideia, e achei uma ótima postagem. Aguardo as próximas!
Post muito bom, em que se mostrou a relação do alimento com os costumes sociais.
ResponderExcluirMostrou também que a alimentação é fundamental para uma vida saudável, pois certos alimentos são benéficos outros acarretam muitos problemas. Em relação alimentação saudável destacou-se a utilização de alimentos protetores como o consumo de vinho pelos franceses e japoneses, mesmo ocorrendo uma dieta lipídica entre esses povos.